Anticalculista
renalmente
infestado
de cálculos
vaticinado de morte
por médico senil
resiste a hipotecar
sua lira sôfrega
à proposta vil
nem mesmo pragueja
poreja versos
aposta
em território adverso
BRASIL!
Extraído do livro Cantos Erectos
quarta-feira, 21 de março de 2007
CRISTÓVÃO ONIROCÉFALO
O que atribuiu-se sofrer em língua vária
o poligólgota
condutor
de Cristos como quistos
de imaginários como leprosários
de redemoinhos como de reais moídos
Cristóvão onirocéfalo
colosso da inverossimilhança
exorta
às testemunhas e temerários
aos trêfegos e aos trágicos
a observarem
um minuto negasilente
todo um minuto de analgesia
quando o virem passar
pugilando as águas
com sua estirpe
de píncaros e epifanias!
Extraído do livro Cantos Erectos
o poligólgota
condutor
de Cristos como quistos
de imaginários como leprosários
de redemoinhos como de reais moídos
Cristóvão onirocéfalo
colosso da inverossimilhança
exorta
às testemunhas e temerários
aos trêfegos e aos trágicos
a observarem
um minuto negasilente
todo um minuto de analgesia
quando o virem passar
pugilando as águas
com sua estirpe
de píncaros e epifanias!
Extraído do livro Cantos Erectos
segunda-feira, 19 de março de 2007
DUNAIDE
Dona
Duna
Irei chamá-la
Doravante
Além de menos anônimo
É veramente consoante
À sua
Como direi?
Topografia
Extraído do livro Cantos Gozosos
Duna
Irei chamá-la
Doravante
Além de menos anônimo
É veramente consoante
À sua
Como direi?
Topografia
Extraído do livro Cantos Gozosos
sábado, 17 de março de 2007
PIMENTA FUINHENTA
Minha boca é de pimenta
Minha alma é com pimenta
Minha vida é na pimenta
Porque a morte é insossa
E quem sabe a ardência
Não a afugenta?
Extraído do livro Cantos Prenhes
Minha alma é com pimenta
Minha vida é na pimenta
Porque a morte é insossa
E quem sabe a ardência
Não a afugenta?
Extraído do livro Cantos Prenhes
ODE À PIMENTA
Não fôra a pimenta
Que sensaboria os lábios
Que hospitalar a língua
Que eunucos os dentes
Não fosse a pimenta
Que perdulária a boca
A pespegar vocábulos
Sem ardência
Palavras sem África
Palavras brancas
Palavras broncas
Palavras mórbidas
Extraído do livro Cantos Prenhes
Que sensaboria os lábios
Que hospitalar a língua
Que eunucos os dentes
Não fosse a pimenta
Que perdulária a boca
A pespegar vocábulos
Sem ardência
Palavras sem África
Palavras brancas
Palavras broncas
Palavras mórbidas
Extraído do livro Cantos Prenhes
quinta-feira, 15 de março de 2007
DO COMATOSO
Não me olha
Em estado de coma-me
Favor não olhar-me
Que me deixas assim
Sob agonia
A menos que
De pronto e de verdade
Queiras ser meu alimento
E eu venha rebentar-se
D'alegria
Extraído do livro Cantos Prenhes
Em estado de coma-me
Favor não olhar-me
Que me deixas assim
Sob agonia
A menos que
De pronto e de verdade
Queiras ser meu alimento
E eu venha rebentar-se
D'alegria
Extraído do livro Cantos Prenhes
MEU CAVALO, O TEMPO
Eu sei, eu sei
Não me repitam
Que o tempo passa
Porque passa passante
Mas me cumprimenta
Sabe que deve saudar-me
Sabe que o tenho na mão
E que de mim depende
Confirmá-lo
Conhece que sou poeta
Sem minha palavra
Minha certidão
O tempo desconfia
O tempo teme
Haver passado em vão
Extraído do livro Cantos Prenhes
Não me repitam
Que o tempo passa
Porque passa passante
Mas me cumprimenta
Sabe que deve saudar-me
Sabe que o tenho na mão
E que de mim depende
Confirmá-lo
Conhece que sou poeta
Sem minha palavra
Minha certidão
O tempo desconfia
O tempo teme
Haver passado em vão
Extraído do livro Cantos Prenhes
domingo, 11 de março de 2007
PROMETEANDO
À terra
Não retomarás
Corpo meu
Seja por nós violada
A suposta lei divina
Tampouco o fogo
Desfará o teu orgulho
E porque segues radiante
Qual morte
Será capaz de achar-te
Entre os astros
Que te criam?
Extraído do livro Cantos Gozosos
Não retomarás
Corpo meu
Seja por nós violada
A suposta lei divina
Tampouco o fogo
Desfará o teu orgulho
E porque segues radiante
Qual morte
Será capaz de achar-te
Entre os astros
Que te criam?
Extraído do livro Cantos Gozosos
LABÉU
Boca
Ô gineceu
Quem não serve
De seus préstimos
Não serve
Para o himeneu
Extraído do livro Cantos Gozosos
Ô gineceu
Quem não serve
De seus préstimos
Não serve
Para o himeneu
Extraído do livro Cantos Gozosos
quarta-feira, 7 de março de 2007
MULHER PERSEGUIDA DE SÓIS
Mulher
A quem os sóis perseguem
Mulher
A quem os sós percebem
Mulher que asperge a luz
Em sucessivas vertigens de halos
Dá-me o que em ti
For sombra
E ainda mais a sombra
Que fala quando percutida
Dá-me, mulher,
Antes que o mal te aconteça
A sombra da vida
Extraído do livro Cantos Prenhes
A quem os sóis perseguem
Mulher
A quem os sós percebem
Mulher que asperge a luz
Em sucessivas vertigens de halos
Dá-me o que em ti
For sombra
E ainda mais a sombra
Que fala quando percutida
Dá-me, mulher,
Antes que o mal te aconteça
A sombra da vida
Extraído do livro Cantos Prenhes
DO VELHO CAULE
Podes julgar estranho
Podes arremedar
Mas o que quer minha'alma
É o meu caule pronto
A te amamentar
Extraído do livro Cantos Prenhes
Podes arremedar
Mas o que quer minha'alma
É o meu caule pronto
A te amamentar
Extraído do livro Cantos Prenhes
DO OLHAR A PINO
Então eu falei
Com o olhar a pimo
Segura bem a haste
A fim de que a flor
Possa cumprir sem falta
Seu grave destino
Extraído do livro Cantos Prenhes
Com o olhar a pimo
Segura bem a haste
A fim de que a flor
Possa cumprir sem falta
Seu grave destino
Extraído do livro Cantos Prenhes
CANTOS PRENHES
Os cantos estão grávidos
E já mostram as pernas abertas
As faces gozosas
Comovida alma
E o colo fecundo
Quem conta um canto
Aumenta o encanto
De apostar no mundo
Extraído do livro Cantos Prenhes
E já mostram as pernas abertas
As faces gozosas
Comovida alma
E o colo fecundo
Quem conta um canto
Aumenta o encanto
De apostar no mundo
Extraído do livro Cantos Prenhes
domingo, 4 de março de 2007
AMAR É PRECISO
É preciso amar
Sem nada do amor saber
Como se se houvesse
Acabado de nascer
É preciso amar
E do amor tudo saber
Do amor nada
Desconhecer
É preciso amar
Como se se soubesse estar
Às vésperas de morrer
Extraído do livro Cantos Prenhes
Sem nada do amor saber
Como se se houvesse
Acabado de nascer
É preciso amar
E do amor tudo saber
Do amor nada
Desconhecer
É preciso amar
Como se se soubesse estar
Às vésperas de morrer
Extraído do livro Cantos Prenhes
A CARNE É FORTE
Ainda que transporte
As pegadas da morte
Entre sua mobília
A carne não recua
E a carne não se avilta
E em busca da carne parte
Que para ajuntar contrita
Carne com carne
Para encarnar na carne
A carne foi inscrita
Extraído do livro Cantos Prenhes
As pegadas da morte
Entre sua mobília
A carne não recua
E a carne não se avilta
E em busca da carne parte
Que para ajuntar contrita
Carne com carne
Para encarnar na carne
A carne foi inscrita
Extraído do livro Cantos Prenhes
A GUELRA DE TRÓIA
Se me abres
As tuas Tróias
De mim hão de sair
Uns Ulisses desvairados
Todos seres misteriosos
Com os corpos cobertos de orquídeas
Extraído do livro Cantos Prenhes
As tuas Tróias
De mim hão de sair
Uns Ulisses desvairados
Todos seres misteriosos
Com os corpos cobertos de orquídeas
Extraído do livro Cantos Prenhes
MALINDROMIA
Mal gerido
E mal gestado
Mal parido
E mal parado
Mal entendido
E mal dialogado
Mal de cifras
E mal decifrado
Mal amado
E mal amanhado
Mal estelado
E mal instalado
Mal, panmal, onimal
Mal acabado
Mal de princípio
E mal de roteiro
Mal de futuro
E mal de esperança:
Bem brasileiro
Extraído do livro Cantos Prenhes
E mal gestado
Mal parido
E mal parado
Mal entendido
E mal dialogado
Mal de cifras
E mal decifrado
Mal amado
E mal amanhado
Mal estelado
E mal instalado
Mal, panmal, onimal
Mal acabado
Mal de princípio
E mal de roteiro
Mal de futuro
E mal de esperança:
Bem brasileiro
Extraído do livro Cantos Prenhes
O VERO AMANTE
O verdadeiro amante
O amante mais transido
É aquele que da morte convencido
Obriga a morte a temer sua libido
E só cuida de amar, ultramar, comovido
Extraído do livro Cantos Prenhes
O amante mais transido
É aquele que da morte convencido
Obriga a morte a temer sua libido
E só cuida de amar, ultramar, comovido
Extraído do livro Cantos Prenhes
PARA HUMILHAR A MORTE
Teremos a morte inteira
Para dormir a sós
Em vida, amemos nós
Que os tempos do amor
No acaso se consomem:
Quem em sua cama se pastem
Os dois mortos de fome
A mulher e o homem
Os tempos do amor são ariscos
A domá-los quem puder
Não há nada que
Mais nos vingue da morte
Que o homem e a mulher
Extraído do livro Cantos Prenhes
Para dormir a sós
Em vida, amemos nós
Que os tempos do amor
No acaso se consomem:
Quem em sua cama se pastem
Os dois mortos de fome
A mulher e o homem
Os tempos do amor são ariscos
A domá-los quem puder
Não há nada que
Mais nos vingue da morte
Que o homem e a mulher
Extraído do livro Cantos Prenhes
sexta-feira, 2 de março de 2007
ORAÇÃO DE BOLSO
Deus ajuda
A quem cedo masturba
Deus saúda
A quem perturba
Da turba a crassa
Indiferença
Extraído do livro Cantos Gozosos
A quem cedo masturba
Deus saúda
A quem perturba
Da turba a crassa
Indiferença
Extraído do livro Cantos Gozosos
PARADOXA
Mulher
Coisa mais prolixa:
tua matriz móvel
é minha idéia fixa
Extraído do livro Cantos Gozosos
Coisa mais prolixa:
tua matriz móvel
é minha idéia fixa
Extraído do livro Cantos Gozosos
VAGINANTROPO
Já que reneguei o mundo
E o mundo sequer percebeu
Minha desistência
Dá-me asilo entre tuas pernas
Mulher
Dá-me disfarce sob as cactáceas
E a pequena língua hirta
Já que fiz votos de libido
Mulher
Acolhe em tua boca o foragido
Doravante chamado
O vaginantropo
Extraído do livro Cantos Gozosos
E o mundo sequer percebeu
Minha desistência
Dá-me asilo entre tuas pernas
Mulher
Dá-me disfarce sob as cactáceas
E a pequena língua hirta
Já que fiz votos de libido
Mulher
Acolhe em tua boca o foragido
Doravante chamado
O vaginantropo
Extraído do livro Cantos Gozosos
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