sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

sábado, 25 de agosto de 2007

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

MÃOS DE VERDURA

Tudo em que tocas
Faz coração
E se alevanta
E ganha modos de canto
Os corpos exultam e propagam
E derramam e latejam
Tens mãos germinativas
E toque propiciatório
Tens mãos sementeiras
Acaricias um rio
E as águas empinam
Afagas um fruto
E a polpa se agita
E os líquidos tremulam
Sua bandeira de seiva
Pões tuas palmas
Sobre a carne
E as partes se limpam do limo
E as formas vivas
Agradecem e comemoram
A carne como destino


Extraído do livro Cantos Prenhes

O SISTEMA MAMAR

Acabo de pedir
Às águias
Aos condores
E aos pelicanos
Que digam aos ventos e aos mares
Às humanas potências da terra
Que a partir de hoje
Têm um novo sol:
A estrela dos teus seios
Nunca mais girar
À volta dos abismos
Nunca mais andar a esmo
Nos desertos do céu
Em vez do sistema solar
O sistema mamar
O futuro recebeu um nome
Nascerá limpo e todo asseio
Tem o nome de tua luz
Que é para o sol de teus seios
Que os cinco continentes
Comigo à frente
Irão se mudar


Extraído do livro Cantos Prenhes

quarta-feira, 21 de março de 2007

DAGUERREÓTIPO

Anticalculista
renalmente
infestado
de cálculos
vaticinado de morte
por médico senil
resiste a hipotecar
sua lira sôfrega
à proposta vil
nem mesmo pragueja
poreja versos
aposta
em território adverso
BRASIL!


Extraído do livro Cantos Erectos

CRISTÓVÃO ONIROCÉFALO

O que atribuiu-se sofrer em língua vária
o poligólgota
condutor
de Cristos como quistos
de imaginários como leprosários
de redemoinhos como de reais moídos
Cristóvão onirocéfalo
colosso da inverossimilhança
exorta
às testemunhas e temerários
aos trêfegos e aos trágicos
a observarem
um minuto negasilente
todo um minuto de analgesia
quando o virem passar
pugilando as águas
com sua estirpe
de píncaros e epifanias!


Extraído do livro Cantos Erectos

segunda-feira, 19 de março de 2007

DUNAIDE

Dona
Duna
Irei chamá-la
Doravante
Além de menos anônimo
É veramente consoante
À sua
Como direi?
Topografia


Extraído do livro Cantos Gozosos

sábado, 17 de março de 2007

PIMENTA FUINHENTA

Minha boca é de pimenta
Minha alma é com pimenta
Minha vida é na pimenta
Porque a morte é insossa
E quem sabe a ardência
Não a afugenta?


Extraído do livro Cantos Prenhes

ODE À PIMENTA

Não fôra a pimenta
Que sensaboria os lábios
Que hospitalar a língua
Que eunucos os dentes

Não fosse a pimenta
Que perdulária a boca
A pespegar vocábulos
Sem ardência
Palavras sem África
Palavras brancas
Palavras broncas
Palavras mórbidas


Extraído do livro Cantos Prenhes

quinta-feira, 15 de março de 2007

DO COMATOSO

Não me olha
Em estado de coma-me
Favor não olhar-me
Que me deixas assim
Sob agonia
A menos que
De pronto e de verdade
Queiras ser meu alimento
E eu venha rebentar-se
D'alegria


Extraído do livro Cantos Prenhes

MEU CAVALO, O TEMPO

Eu sei, eu sei
Não me repitam
Que o tempo passa
Porque passa passante
Mas me cumprimenta
Sabe que deve saudar-me
Sabe que o tenho na mão
E que de mim depende
Confirmá-lo
Conhece que sou poeta
Sem minha palavra
Minha certidão
O tempo desconfia
O tempo teme
Haver passado em vão


Extraído do livro Cantos Prenhes

domingo, 11 de março de 2007

PROMETEANDO

À terra
Não retomarás
Corpo meu
Seja por nós violada
A suposta lei divina
Tampouco o fogo
Desfará o teu orgulho
E porque segues radiante
Qual morte
Será capaz de achar-te
Entre os astros
Que te criam?


Extraído do livro Cantos Gozosos

LABÉU

Boca
Ô gineceu
Quem não serve
De seus préstimos
Não serve
Para o himeneu


Extraído do livro Cantos Gozosos

quarta-feira, 7 de março de 2007

MULHER PERSEGUIDA DE SÓIS

Mulher
A quem os sóis perseguem
Mulher
A quem os sós percebem
Mulher que asperge a luz
Em sucessivas vertigens de halos
Dá-me o que em ti
For sombra
E ainda mais a sombra
Que fala quando percutida
Dá-me, mulher,
Antes que o mal te aconteça
A sombra da vida


Extraído do livro Cantos Prenhes

DO VELHO CAULE

Podes julgar estranho
Podes arremedar
Mas o que quer minha'alma
É o meu caule pronto
A te amamentar


Extraído do livro Cantos Prenhes

DO OLHAR A PINO

Então eu falei
Com o olhar a pimo
Segura bem a haste
A fim de que a flor
Possa cumprir sem falta
Seu grave destino


Extraído do livro Cantos Prenhes

CANTOS PRENHES

Os cantos estão grávidos
E já mostram as pernas abertas
As faces gozosas
Comovida alma
E o colo fecundo
Quem conta um canto
Aumenta o encanto
De apostar no mundo


Extraído do livro Cantos Prenhes

domingo, 4 de março de 2007

AMAR É PRECISO

É preciso amar
Sem nada do amor saber
Como se se houvesse
Acabado de nascer
É preciso amar
E do amor tudo saber
Do amor nada
Desconhecer
É preciso amar
Como se se soubesse estar
Às vésperas de morrer


Extraído do livro Cantos Prenhes

A CARNE É FORTE

Ainda que transporte
As pegadas da morte
Entre sua mobília
A carne não recua
E a carne não se avilta
E em busca da carne parte
Que para ajuntar contrita
Carne com carne
Para encarnar na carne
A carne foi inscrita


Extraído do livro Cantos Prenhes

A GUELRA DE TRÓIA

Se me abres
As tuas Tróias
De mim hão de sair
Uns Ulisses desvairados
Todos seres misteriosos
Com os corpos cobertos de orquídeas


Extraído do livro Cantos Prenhes

MALINDROMIA

Mal gerido
E mal gestado
Mal parido
E mal parado
Mal entendido
E mal dialogado
Mal de cifras
E mal decifrado
Mal amado
E mal amanhado
Mal estelado
E mal instalado
Mal, panmal, onimal
Mal acabado
Mal de princípio
E mal de roteiro
Mal de futuro
E mal de esperança:
Bem brasileiro


Extraído do livro Cantos Prenhes

O VERO AMANTE

O verdadeiro amante
O amante mais transido
É aquele que da morte convencido
Obriga a morte a temer sua libido
E só cuida de amar, ultramar, comovido


Extraído do livro Cantos Prenhes

PARA HUMILHAR A MORTE

Teremos a morte inteira
Para dormir a sós
Em vida, amemos nós
Que os tempos do amor
No acaso se consomem:
Quem em sua cama se pastem
Os dois mortos de fome
A mulher e o homem
Os tempos do amor são ariscos
A domá-los quem puder
Não há nada que
Mais nos vingue da morte
Que o homem e a mulher


Extraído do livro Cantos Prenhes

sexta-feira, 2 de março de 2007

CIÃO

Eu cio
Tu cias
Nós ciaremos
No imo
Do seio
Do cimo:
Rócio


Extraído do livro Cantos Gozosos

ORAÇÃO DE BOLSO

Deus ajuda
A quem cedo masturba
Deus saúda
A quem perturba
Da turba a crassa
Indiferença


Extraído do livro Cantos Gozosos

PARADOXA

Mulher
Coisa mais prolixa:
tua matriz móvel
é minha idéia fixa


Extraído do livro Cantos Gozosos

VAGINANTROPO

Já que reneguei o mundo
E o mundo sequer percebeu
Minha desistência
Dá-me asilo entre tuas pernas
Mulher
Dá-me disfarce sob as cactáceas
E a pequena língua hirta
Já que fiz votos de libido
Mulher
Acolhe em tua boca o foragido
Doravante chamado
O vaginantropo


Extraído do livro Cantos Gozosos

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

À GUISA DE CONVENIÊNCIA

Reitero
aos senhores coveiros
– em verdade, meus carcereiros –
que isentem de meu cadáver
as íntimas vísceras
chamadas bofes
não por agravo à terra
por afronta à morte:
os vermes desprezam estrofes!


Extraído do livro Cantos Erectos

IMAGO

O que era falo
hoje falópio
por amor de tuas trompas...


Extraído do livro Cantos Erectos

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

A FLAMEJANTE RADIOSCOPIA

Poeta é o inverso da lei!

À lei poeta é averso

Que poeta é sujeito a versos
Que poeta é sujeito Versus
Que poeta é sujeito reverso
da ordem que erode a ode
do abjeto dejeto no objeto

Que poeta
o que verbera verbo vero
persegue
desobstruir os veios do mundo;
Poemodiálise, Poemodiálise!
Que poeta
é o mártir alegríssimo
de seu gerúndio trajeto:
flama que garanha a fleuma
o poeta é o vetor do veto!


Extraído do livro Cantos Erectos

DUAS AMÉRICAS

Há uma América do Norte
E outra América do mórbido
Uma é América latrocina
Outra América Latina
Uma América acelerada
Outra a celerada e paulatina
Uma América da águia
Outra América da íngua
Uma América do mango
Outra América da míngua
Uma América legal
Outra América legista
Uma América do ludo
Outra América do luto
Uma América de cacifes
Outra América de caciques
Uma América do ócio
Outra América do bócio
Uma América da Cia
Outra América do cio
Uma América de saciados
Outra América de Sacis
Uma América de crepes
Outra América de crupes
Uma América de escritórios
Outra América de excretórios

Uma América sentinela
Outra América sentina

Uma América do Pentágono
Outra América das poliagonias

Há uma América do Norte
Deus salgue esta América.
Outra América da morgue:
salvem-na os que pudermos.


Extraído do livro Cantos Erectos